sábado, 16 de agosto de 2008

ANTUNES, Celso. Educação infantil: prioridade imprescindível. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

Em 1996, a LDB determinou, em seu artigo 62, que para atuar na educação básica é essencial que o professor possua nível superior e que no prazo de dez anos somente professores habilitados em nível superior serão admitidos. 17

Até a década de 1960, entendia-se o cérebro de uma criança como uma composição orgânica estática e imutável sobre a qual nada poderia ser feito no sentido de acelerar seu amadurecimento. Atualmente, os cientistas da cognição o percebem como órgão dinâmico que, devidamente alimentado por estímulos e experiências, responde e se transforma de maneira como jamais seria possível prever sem esses estímulos e sem essas experiências. 22

Se o adulto que a criança virá um dia a ser será simpático ou antipático, terá ou não muitas amizades e será esperto ou dinâmico, depende bem menos das faculdades mentais inatas e mais, muito mais, da maneira como através da educação, será transformado. 23

Iniciava-se uma estrada científica admirável que explicaria o que o bom senso já sabia: “dize-me em que ambiente cresce uma criança e direi como será sua aprendizagem”. Demonstrava-se o mito de que na Educação Infantil importa a criança apenas brincar, posto que somente mais tarde é que é chamada a hora de aprender. 28

Ora, a aprendizagem e a construção de significados pelo cérebro se manifesta quando este transforma sensações em percepções e estas em conhecimentos, mas esse trânsito somente se completa de forma eficaz quando aciona os elementos essenciais do bom brincar que são , justamente, memória, emoções, linguagem, atenção, criatividade, motivação e, sobretudo, ação. 31

Importa bem menos que a escola tenha brinquedos e que os exiba aos pais e bem mais como os utiliza e de forma esse uso realmente estrutura a proposta educativa. 32

Brincar favorece a auto-estima, a interação com seus pares e, sobretudo, a linguagem interrogativa, propiciando situações de aprendizagem que desafiam seus saberes estabelecidos e destes fazem elementos para novos esquemas de cognição. Através do jogo simbólico a criança aprende a agir e desenvolve autonomia que possibilita descobertas e anima a exploração, a experiência e a criatividade. 33

Mas, seja qual for a intensidade da implicância com a prefixo “pré” ela deve se mostrar infinita quando aplicada a “pré-escola”, pois aí parece querer afirmar que essa fase da vida não tem lá muita razão de ser, senão a de esperar pela verdadeira escolaridade. Isso, convenhamos, é um absurdo! Segundo o que hoje se conhece sobre a mente humana, e bastante já se conhece, não podemos duvidar que a educação infantil é tudo e o resto é quase nada e, portanto, não se justifica rotular d e “pré” a fase incontestavelmente mais significativa da escolaridade humana. Além disso, o emprego desse prefixo, no caso, conota a idéia de que na pré-escola apenas se brinca, como que aguardando o instante do aprender. 41

Se tudo isso pode ser chamado de “pré”, então a própria vida humana seria uma pré-vida e outra razão não existiria em se viver senão pela morte se esperar. 42

O verbalismo inspira-se na concepção de que o aluno aprende ouvindo seu professor e que sua mente é copinho vazio que necessita de informações para aferir aprendizagens. 50

O castigo manifesta-se dissimulado pela atribuição de sucesso de alguns que a outros são comparados e expressos por nota altas e notas baixas..... Essa linha de ação simboliza estratégia circense, boa para adestramento de ursos, mas terrível para a diversidade e grandeza da essência humana e auto-estima que dignifica toda criança. Se o verbalismo pode ser comparado a uma gripe, esse sistema arcaico de avaliação caracteriza verdadeiro câncer educacional.

O reflexo condicionado se manifesta através de estratégias de ensino que adestram a mostram que afinal de contas “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Apoiados nessa visão que o tempo mostrou grotesca, muitas escolas ainda utilizam sistemas de ensino que fazem do pensamento um músculo, cobrando-lhe eficiência pelos caminhos do treino. 51

Coroando esses bárbaros instrumentos de educação infantil, existe ainda a “teoria do homenzinho” ou de que todo aluno é apenas um homem pequeno... Pensar e agir dessa forma é mais ou menos como pensar no filho como boi, que para outra coisa não veio ao mundo senão para ser bife suculento. 51

Uma escola onde as professoras, prestando atenção nas dúvidas, perguntas e comentários dos alunos, descubram anseios de vontade de aprendentes que se transformarão em situações de aprendizagem e projetos que deverão durar, enquanto se mantiver acesa a curiosidade, o desafio, a vontade da descoberta e o espírito de busca. Observe se essas situações de aprendizagem se organizam em sua expressão através de linguagens múltiplas e espontâneas, onde se manifestam desenhos, colagens, movimentos, sons e construções individuais e coletivas. 52

É essencial que uma escola acredite naquilo que a ciência não ousa duvidar: a educação infantil é crucial na formação da pessoa e em seu nome é imprescindível que ensine a compartilhar e fazer amigos, a descobrir que a verdadeira ciência ensina verdades, que quem não jamais escreve e que a liberdade e a individualidade constituem essências do crescer. 53

Um comentário:

Iury Achiney disse...

Oi bruno,tudo bem?!
Na verdade só passei aqui para agradecer essa síntese que vc postou no seu blog,pois me ajudou muito mesmo,pois eu tenho um seminário sobre esse livro do celso Antunes e precisava sintetizar tudo,o máximo.
Obrigado.