Ecologia ambiental
Esta primeira vertente preocupa-se com o meio ambiente, para que não sofra excessiva desfiguração, visando à qualidade de vida, à preservação das espécies em extinção e à permanente renovação do equilíbrio dinâmico, urdido em milhões e milhões de anos de evolução. Ela vê, entretanto, a natureza fora do ser humano e da sociedade. 26
Ecologia social
... não quer apenas o meio ambiente. Que o ambiente inteiro. Insere-se o ser humano e a sociedade dentro da natureza como partes diferenciadas dela. Preocupa-se não apenas com o embelezamento da cidade, com melhores avenidas, com praças ou praias mais atrativas,mas também prioriza o saneamento básico, uma boa rede escolar e um serviço de saúde decente. 27
Nos quadros atuais, o desenvolvimento sustentável permanece um desiderato e representa uma negação do atual modelo social de produção.28
Ecologia mental
... chamada também de ecologia profunda, sustenta que as causas do déficit da Terra não se encontram apenas no tipo de sociedade que atualmente temos, mas também no tipo de mentalidade que vigora, cujas raízes remontam a épocas anteriores à nossa história moderna, incluindo a profundidade da vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica. 29
O antropocentrismo considera o ser humano rei/rainha do universo. Considera que os demais seres só têm sentido quando ordenados ao ser humano; eles estão aí disponíveis ao seu bel-prazer. Esta compreensão quebra coma lei mais universal: a solidariedade cósmica. Todos os seres são interdependentes e vivem dentro de uma teia intrincadíssima de relações. Todos são importantes. 29
A moderna cosmologia nos ensina que tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. O ser humano esquece essa intrincada rede de relações. Afasta-se dela e coloca-se sobre as coisas, ao invés de sentir-se junto e com elas, numa imensa comunidade planetária e cósmica. 30
Isso somente se consegue se antes for resgatada a dimensão do anima, do feminino no homem e na mulher. Pelo feminino o ser humano se abre ao cuidado, se sensibiliza pela profundidade misteriosa da vida e recupera sua capacidade de maravilhamento. O feminino ajuda a resgatar a dimensão do sagrado. 30
A crise ecológica, para ser superada, exige um outro perfil de cidadão, com outra mentalidade, mais sensível, mais cooperativa e mais espiritual. Eis as boas razões de uma ecologia mental. 31
Ecologia integral
... parte de uma nova visão da Terra, inaugurada pelos astronautas a partir dos anos 60, quando se lançaram os primeiros foguetes tripulados. Eles vêem a Terra de fora da Terra. 31
O holismo não significa a soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una e diversa em suas partes, sempre articuladas entre si dentro da totalidade e construindo totalidade. 34
Ele (o ser humano) é um ser que pode captar todas essa dimensões, alegrar-se com elas, louvar e agradecer àquela Inteligência que tudo ordena e àquele Amor que tudo move, sentir-se um ser ético, responsável pela parte do universo que lhe cabe habitar, a Terra. 34
Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, energética, social, educacional, moral, ecológica e espiritual. Se olharmos bem, verificamos que, na verdade, em todas elas se encontra a crise fundamental: a crise do tipo de civilização que criamos a partir dos últimos 400 anos. Essa crise é global porque esse tipo de civilização se difundiu ou foi imposta praticamente ao globo inteiro. 41
Críticas ao modelo de sociedade atual e à ecologia
A primeira é feita pelos movimentos de libertação dos oprimidos. Ela diz: o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida, o bem comum, a participação e a solidariedade entre os homens. O seu eixo estruturador está na economia de corte capitalista. 42
A segunda linha crítica vem dos grupos pacifistas e da não violência ativa. Esses grupos notam que o tipo de sociedade de desenvolvimento desigual produz muita violência. Violência social e injustiça societária, por causa da desigualdade; violência em nível nacional e internacional. 45
Para manter a coesão mínima de uma sociedade desestabilizada internamente são necessários corpos militares pra controle e repressão. 45
Dados recentes apontam que 2/3 da inteligentzia mundial trabalha em projetos militares. Mesmo depois do fim da guerra fria, aplicam-se na indústria da morte cerca de 1 – 3 trilhões de dólares ao ano. Apenas 130 bilhões de dólares destinam-se à preservação do planeta Terra e de seus ecossistemas. 45
A violência militar e a guerra atômica, química e bacteriológica constituem formas específicas de agressão global, capazes de produzir o ecocídio, o biocídio e o geocídio de vastas regiões do planeta. 46
O terceiro grupo de crítica nos interessa diretamente: são os movimentos ecológicos. Eles constatam que os tipos de sociedade e de desenvolvimento existentes não conseguem produzir riqueza sem simultaneamente produzir degradação ambiental.46
O grande desafio vem da pobreza e da miséria. Esses são os principais problemas ecológicos da humanidade, e não o mico-leão dourada, o urso panda da China e as baleias dos oceanos. 47
Digamos logo de saída: pobreza e miséria são questões sociais,e não naturais e fatais. Elas são produzidas pela forma como se organiza a sociedade. 47
Não basta, em ecologia, o conservacionismo (conservar as espécies em extinção), como se a ecologia se restringisse somente a um setor da natureza, aquele biótico ameaçado. Hoje todo o planeta deve ser conservado, porque todo ele está ameaçado. 48
Não basta o preservacionismo (preservar, mediante reservas e parques naturais, regiões onde ser conserva o equilíbrio ambiental). Isso propicia principalmente o turismo ecológico e induz a um comportamento reducionista: somente nessas unidades de conservação o ser humano mantém um comportamento de respeito e de veneração; em outros lugares, segue a lógica da devastação. 48
Não basta o ambientalismo, como se a ecologia tivesse apenas a ver com o ambiente natural, com o verde, as espécies e o ar. 48
Principais questões da ecologia social
o ser humano sempre interage intensamente com o ambiente. Nem o ser humano nem o meio ambiente podem ser estudados separadamente. 51
essa interação é dinâmica e se realiza no tempo. A história dos seres humanos é inseparável da história de seu ambiente e de como eles interagem; 51
cada sistema humano cria seu adequado ambiental. São diferentes e possuem simbolizações singulares... 51-2
a ecologia social se interessa por questões como: por meio de que instrumentos os seres humanos agem sobre a natureza? 52
Para uma perspectiva integral, a sociedade e a cultura pertencem também ao complexo ecológico. Ecologia, já o assinalamos, é a relação que todos os seres, vivos e inertes, naturais e culturais, têm entre si e com o seu meio ambiente. 53
A ecologia chegou a ser uma crítica e até uma denúncia do funcionamento das sociedades modernas. Entre as coisas que se tem denunciado, temos a super-exploração do hemisfério sul, quer dizer do chamado terceiro mundo, por parte dos países comparativamente ricos do Norte, do chamado Primeiro Mundo. Nesse sentido, tomar consciência sobre a problemática ecológica global deve implicar adquirir consciência da situação socioeconômica, política e cultural de nossas sociedades, oque significa conhecer a situação de exploração dos países do Sul pelos industrializados do Norte. 12
EDSTRÖM, Ingemar. Somos parte de un gran equilibrio. Costa Rica: DEI, 1995.
Dentro dos parâmetros da ecologia social, devemos denunciar que o sistema social dentro do qual vivemos – a ordem do capital, hoje mundialmente integrado – é profundamente antiecológico. 54
As terras mais pobres foram deixadas para as maiorias que, para sobreviver, vêem-se forçadas a superexplorá-las e a esgotar o solo, terminando por desflorestar as matas, quebrando o equilíbrio natural. Os negros, antes escravizados, com a libertação jurídica, não foram compensados em nada. Da casa-grande foram jogados diretamente para as favelas. Tiveram de ocupar os morros, desmatar, abrir valas para o saneamento ao ar livre e assim viver sob a ameaça de muitas doenças, de dasabamentos e de mortes. Todas estas manifestações significam outras agressões ao meio, provocadas socialmente. 55
A proposta de Chico Mendes tornou-se paradigmática. Propunha o desenvolvimento extrativista que combinava o social com o ambiental. Ele compreendeu que os povos da floresta (questão social) precisavam da floresta para sobreviver (questão ambiental). Ele se deu conta também dos dois tipos de violência ecológica contra o meio ambiente e a violência social, violência contra os indígenas e seringueiros. Ambas obedecem à mesma lógica, lógica de acumulação mediante a dominação de pessoas e a exploração das coisas. 58
A ética não pode ser apenas ambiental, mas sócio-ambiental, pois, como vimos, o ambiente vem marcado pelo social e ao social pelo ambiental. 60
Pode sentir-se o anjo bom da natureza, seu guardião, o herdeiro responsável diante do Criador; como pode comportar-se como satã da Terra, destruir, quebrar equilíbrios e devastar espécies de seres vivos e mesmo os seus semelhantes. 61
O resultado atual é desolador. O ser humano elaborou uma relação injusta e humilhante para com a natureza. A Terra não agüenta mais a máquina da morte ou a voracidade capiltalista. Impõe-se, urgentemente, uma justiça ecológica. 62
Um notável filósofo da ética da responsabilidade, Hans Jonas, formulou, na linha de Kant, um novo imperativo ético para nossos dias: “ Comporta-te de tal maneira que os efeitos de tuas ações sejam compatíveis com a permanência da natureza e da vida humana sobre a Terra”. 63
... a lógica que leva a dominar classes, oprimir povos e discriminar pessoas é a mesma que leva a explorar a natureza. 65
A economia mudou. Antes era uma economia para o crescimento e o desenvolvimento. Agora é uma economia para o pagamento da dívida externa. É o mundo as avessas. Os pobres ajudam os ricos. 77
Hoje, dentro das políticas de ajustes, em vista do mercado mundial, somos mais pobres. Mas com uma agravante: estamos sem esperança. Difunde-se a crença de que os países do Terceiro Mundo não tem futuro nem salvação. 79
... a forma como se produz privilegia o capital ao trabalho, a acumulação privada à participação coletiva, e considera a pessoa humana apenas como força de trabalho, carvão vivo a ser queimado na máquina produtiva. 81
Se prepararmos bem a mundialização se faz pela via da competitividade (por isso é violenta), não pela via da solidariedade e da interdependência de todos com todos e com a natureza. 82
O dogma fundamental da religião da mercadoria é esse: “o dinheiro tudo pode, move o céu e a terra”. E o mercado é a mão invisível que rege nossos destinos melhor do que a nossa consciência, pois toma sempre a decisão mais adequada. 85
Assim o interesse do padeiro não reside em saciar a fome das pessoas(interesse social), mas em ganhar dinheiro com a venda de seu pão (interesse privado). 87
De uma economia de produção material ilimitada, deve-se chegar a uma economia da produção humana integral, produção do suficiente para todos, também para os seres vivos da natureza. 89
Desafios ético-ecológicos: atitudes novas em face de uma realidade nova
Humanização mínima: todo ser humano deve ter o direito mínimo de persistir na existência. Isso quer dizer que deverá poder comer pelo menos uma vez ao dia, morar e ter o cuidado básico de saúde garantido. 90
Cidadania:implica numa atitude democrática, participatória, e a concordância intrínseca com a pluralidade. 91
Justiça socioetária: implica a certeza de se poder desfrutar de benefícios sociais; certeza também do prevalecimento da certa correlação entre o que o cidadão contribui e o que, em contrapartida, recebe. 91
Bem-estar humano e ecológico: os melhores projetos, práticas e organizações são aqueles que maximizam não somente a quantidade de bens e serviços, mas principalmente a qualidade da vida humana. 91
Respeito às diferenças culturais: o ser humano é um ser histórico e codificou diferentemente suas respostas às questões significativas de sua passagem pela Terra. 92
Pathos é o sentimento de base pelo qual somos afetados e afetamos tudo o que nos cerca. Configura a estrutura básica da existência enquanto ser-no-mundo junto com outros em permanente inter-retro-relacionamento. 101
Eros significa a força vital, o entusiasmo, a criatividade da vida, a força de expansão e criação de diferenças e também de sua unidade dinâmica. 101
Logos é a capacidade de interlecção, de descoberta e de criação de sentido em tudo o que sentimos e captamos. É um princípio ordenador da vida e do universo. 102
Daimon é a voz interior, o chamado de nossa natureza profunda, a inclinação e o afeto que sempre os empurram para frente e para cima, ajudando-nos a discernir o bem e o mal. 102
Ethos é a capacidade de ordenar responsavelmente os comportamentos com os outros e com o mundo circundante, para que possamos viver na justiça, na cooperação e na paz, no interior da casa comum dos humanos (sentido originário de ethos = habitat humano). 102
Essa hegemonia acabou por se transformar numa espécie de ditadura do logos sobre as demais dimensões da existência e de sua compreensão, especialmente quando o logos foi afunilado numa compreensão utilitarista e funcional... 102-3
A crise da cultura do logos levou à revalorização do pathos, do eros, do daimon e do ethos como caminhos da integração e de resgate do próprio logos, a serviço da vida humana e da preservação da integridade da criação. 103
Chamamos de paradigma àquele conjunto de saberes e utopias que estruturam uma sociedade determinada. Esse paradigma é o horizonte de um sentido globalizador. 103
O paradigma deve responder à pergunta fundamental que todos fazem, deve atender às demandas impostergáveis, deve produzir desafogo e sentimento de segurança e orientação. 104
Não precisamos recorrer a um princípio transcendente e externo para explicar o surgimento da vida, como o fazem, comumente, as religiões e a cosmologia clássica. Basta que o princípio cosmogênico, esteja presente na minúscula esfera primordial, esta sim criada por uma inteligência suprema, um infinito amor e uma eterna paixão. 109
A vida, pois, representaria a realização de um a possibilidade presente na própria matéria e energia originárias. 109
Há tantos planetas vivos no universo quanto há planetas capazes de gerar e sustentar a vida. Uma estimativa conservadora eleva o número à casa dos milhões. Trilhões de biosferas costeiam o espaço em trilhões de planetas, canalizando matéria e energia em fluxos criativos de evolução. Para qualquer direção do espaço que olhemos, há vida (...). O universo não é o cosmo inerte dos físicos, com uma pitada a mais de vida por precaução. O universo é vida com a necessária estrutura à sua volta; consiste principalmente em trilhões de biosferas geradas e sustentadas pelo restante do universo. 383
DUVE, Christian de. Poeira vital: a vida como imperativo cósmico. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Nos meteoritos, encontram-se aminoácidos. Esses, sim, são os eventuais portadores das arquibactérias da vida. Houve, provavelmente, vários começos da vida, muitos, possivelmente, vários começos de vida, muito possivelmente frustrados, até que um definitivamente pôde firmar-se e perdurar. 112
O homem/mulher é o derradeiro rebento da árvore da vida, a expressão mais complexa da biosfera, que, por sua vez é expressão da hidrosfera, da geosfera, enfim, da história da Terra e do universo. Não vivemos apenas sobre a Terra. Somo filhos e filhas da Terra, mas também membros do imenso cosmos. 113
As características da vida são a auto-organização:as partes estão num todo orgânico, continuamente se estruturando, fazendo com que as funções sejam diferenciadas, articuladas e complementares; a autonomia: cada ser existe em si, possui sua identidade, que se autoconstrói permanentemente, mas ao mesmo tempo existe a partir dos outros e para os outros, sempre interagindo com o meio; adaptabilidade ao meio: por ela, garante seu equilíbrio frágil, troca energia e matéria com o meio circundante, sobrevive e expande o sistema da vida; reprodução: é a qualidade originalíssima da vida, pois se transmite idêntica a si mesma dentro de uma mesma espécie; e, por fim, a autotrascendência: como um sistema aberto a novas sínteses, a novos patamares de evolução e a novas formas de expressão. 114
O ethos assume então seu caráter originário hábitat humano, aquela parte do mundo que foi domesticada, amada, organizada para ser a casa do ser humano, onde ele reencontra um útero protetor. Essa ambiência é formada pela ternura e pelo cuidado. 117
Há uma máquina de morte contra a vida na Terra e contra o macroorganismo Gaia. Importa defender e garantir a permanência do maior sucesso de cosmogênese: a produção e a reprodução da vida. 118
A vida, como vimos, é frágil e vulnerável. Está à mercê do jogo entre o caos e cosmos. A atitude adequada para a vida é o cuidado, o respeito, a veneração e a ternura. 118-9
Em primeiro lugar, vem a Terra como um todo, pois ela demanda um cuidado especial para ser curada e poder possibilitar a vida para todos. Ser solidário para com ela é reconhecer-lhe a autonomia e respeitar os recursos que ela mesma usa para se refazer e se autocurar. Em seguida, trata-se de cuidar dos seres mais ameaçados. Estes são os empobrecidos, marginalizados e vitimados por mecanismos de opressão e sacrificação de pessoas, implicadas nos modelo econômico-social dominante. Ser solidários para com esses seres humanos implica, hoje questionar o tipo de sociedade agora marginalizado, cuja lógica de funcionamento produz tantos excluídos. 120-1
O que tem futuro garantido é a vida, pois ela, fundamentalmente, não é nem temporal, nem vegetal, nem animal, nem humana. A vida é eterna. Veio do mistério do universo, passa por nós e retorna ao seio desse mesmo mistério vivo, fonte de toda a vida. 123
Na nossa cultura ocidental, a cosmologia antiga projetava o mundo como uma imensa pirâmide. Os seres se hierarquizavam, dos mais simples aos mais complexos (pedras, plantas, animais, seres humanos e anjos/demônios), até culminarem em Deus. 128
O desenvolvimento deve ser com a natureza, e não contra a natureza. O que deve ser mundializado atualmente é menos o capital, o mercado, a ciência e a técnica. O que deve, fundamentalmente, ser mais mundializado é a solidariedade para como todos os seres, a partir dos mais afetados; a valorização ardente da vida, em todas as suas formas; a participação como resposta ao chamado de cada ser humano e à dinâmica mesma do universo; a veneração para com a natureza da qual somos parte, e a parte responsável. 132
René Descarte: “mestre e donos da natureza”.
Francis Bacon: “Saber é poder”. Sobre a natureza... “amarra-la ao serviço humano e faze-la nossa escrava, coloca-la na cama de Procusto, tortura-la até que ela nos entregue todos os segredos”.
Para a psicologia infantil, o que não se vê, não existe. No adulto, pode permanecer como resquício dessa visão a idéia de que um objeto não mais visível já não existe. Por isso, lança ao fundo do mar ou soterra rejeitos tóxicos ou nucleares com sensação ilusória de te-los eliminado realmente. 135
Bem dizia o cacique Seattle, americano: “ quando a última árvore for abatida, quando o rio for envenenado, quando o último peixe for capturado, somente então nos daremos conta de que não se pode comer dinheiro”. 137
A ecologia da mente procura recuperar o núcleo valorativo-emocional do ser humano em face da natureza. 138
A natureza não é biocêntrica, mas econcêntrica, pois ela visa ao equilíbrio entre vida e morte, numa perspectiva de manutenção do todo. 143
Darwin estabeleceu a luta pela vida como princípio de seleção natural. O mais forte sobrevive; portanto, triunfa o princípio da auto-afirmação. Essa constatação não representa toda a verdade. Hoje se complementa Darwin com os princípios sinergia, cooperação, solidariedade univesal, princípio que responde pela sobrevivência de todos no todo. Não se há de acentuar apenas a diferença e a identidade, mas também a complementaridade e a solidariedade entre todos. 143
... renomados cientistas representam a Terra como um sistema complexo único, um superorganismo vivo, Gaia. 144
A rigor, sobre Deus não se pode dizer nada, porque todos os nossos conceitos palavras vem depois e derivam do universo. E queremos falar d’Aquele que é antes do universo. Como? Com razão dizem os que conhecem a Deus por experiência, os místicos: ao falar de Deus, mais negamos que afirmamos, proferimos mais falsidades do que verdades. Apesar disso, devemos falar d’Ele com reverência e unção, porque colocamos questões que somente apelando para a categoria Deus podem ser, palidamente, respondidas.146
Essa consciência ganha dramaticidade por causa do principio de autodestruição. O homem da modernidade científico-técnica, no afã de atingir níveis cada vez mais altos de desenvolvimento, sacrificou pesadamente as classes, os povos e a natureza. Disso resultou um efeito não intencional: a máquina de morte, capaz de destruir toda a biosfera. Tal fato suscita a urgência do princípio de responsabilidade para controlar e limitar o princípio de autodestruição. 159-160
Que futuro possui? Aquele da Igreja romana que ela produz. A igreja romana é parte da cultura ocidental, cada vez mais acidental, quando considerada numa perspectiva planetária. 162
O catolicismo popular não deve ser entendido como decadência do catolicismo oficial. Trata-se de uma tradução diferente da mensagem cristã no código da cultura popular, simbólica e com uma linguagem que obedece à lógica do inconsciente. 163
O catolicismo popular significa uma das maiores e mais originais criações da cultura brasileira. Aqui o Cristianismo morenizou-se e se mostrou, mas fonte que espelho. Soube conferir uma aura de mística e de magia à vida do povo, tantas vezes humilhado, sangrado e ressangrando, na expressão de Capistrano de Abreu. 165
Atualmente o movimento carismático penetrou em todas as instâncias da Igreja, de bispos a leigos. Configura um novo modo de ser Igreja. Todos estão cansados de catecismos e doutrinas. Busca-se uma experiência de Deus, como Espírito, um encontro vivo com a Fonte da vida. 169
A vida é sagrada, pois representa a floração mais alta e misteriosa do processo evolucionário. É por meio dela que se revela o mistério do mundo que chamamos Deus. 212
O Cristianismo deve ajudar a criar um mundo para todos, e não só para os cidadãos. E a democracia é o enquadramento social e político benéfico para todos. A partir da democracia planetária, é possível o encontro das religiões, das espiritualidades e das visões de mundo. 213
O ser humano é uma totalidade inserida ecologicamente dentro de outra totalidade maior, que é o universo à nossa volta. 222
A primeira curva, a biológica, vai descrevendo e morrendo até acabar de morrer. A segunda curva, a pessoal, vai nascendo e crescendo até acabar de nascer. 226
O ser humano concreto é a unidade tensa, difícil e irredutível dessas duas curvas e desses dois pontos da elipse humana. 227
Um poeta alemão expressou bem o que significa o ser humano enquanto alma: “um cão que morre e que sabe que morre como um cão e que pode dizer que morre como um cão: eis aí um ser humano”. (E. Fried, Warngedichte)228
Esta primeira vertente preocupa-se com o meio ambiente, para que não sofra excessiva desfiguração, visando à qualidade de vida, à preservação das espécies em extinção e à permanente renovação do equilíbrio dinâmico, urdido em milhões e milhões de anos de evolução. Ela vê, entretanto, a natureza fora do ser humano e da sociedade. 26
Ecologia social
... não quer apenas o meio ambiente. Que o ambiente inteiro. Insere-se o ser humano e a sociedade dentro da natureza como partes diferenciadas dela. Preocupa-se não apenas com o embelezamento da cidade, com melhores avenidas, com praças ou praias mais atrativas,mas também prioriza o saneamento básico, uma boa rede escolar e um serviço de saúde decente. 27
Nos quadros atuais, o desenvolvimento sustentável permanece um desiderato e representa uma negação do atual modelo social de produção.28
Ecologia mental
... chamada também de ecologia profunda, sustenta que as causas do déficit da Terra não se encontram apenas no tipo de sociedade que atualmente temos, mas também no tipo de mentalidade que vigora, cujas raízes remontam a épocas anteriores à nossa história moderna, incluindo a profundidade da vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica. 29
O antropocentrismo considera o ser humano rei/rainha do universo. Considera que os demais seres só têm sentido quando ordenados ao ser humano; eles estão aí disponíveis ao seu bel-prazer. Esta compreensão quebra coma lei mais universal: a solidariedade cósmica. Todos os seres são interdependentes e vivem dentro de uma teia intrincadíssima de relações. Todos são importantes. 29
A moderna cosmologia nos ensina que tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. O ser humano esquece essa intrincada rede de relações. Afasta-se dela e coloca-se sobre as coisas, ao invés de sentir-se junto e com elas, numa imensa comunidade planetária e cósmica. 30
Isso somente se consegue se antes for resgatada a dimensão do anima, do feminino no homem e na mulher. Pelo feminino o ser humano se abre ao cuidado, se sensibiliza pela profundidade misteriosa da vida e recupera sua capacidade de maravilhamento. O feminino ajuda a resgatar a dimensão do sagrado. 30
A crise ecológica, para ser superada, exige um outro perfil de cidadão, com outra mentalidade, mais sensível, mais cooperativa e mais espiritual. Eis as boas razões de uma ecologia mental. 31
Ecologia integral
... parte de uma nova visão da Terra, inaugurada pelos astronautas a partir dos anos 60, quando se lançaram os primeiros foguetes tripulados. Eles vêem a Terra de fora da Terra. 31
O holismo não significa a soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una e diversa em suas partes, sempre articuladas entre si dentro da totalidade e construindo totalidade. 34
Ele (o ser humano) é um ser que pode captar todas essa dimensões, alegrar-se com elas, louvar e agradecer àquela Inteligência que tudo ordena e àquele Amor que tudo move, sentir-se um ser ético, responsável pela parte do universo que lhe cabe habitar, a Terra. 34
Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, energética, social, educacional, moral, ecológica e espiritual. Se olharmos bem, verificamos que, na verdade, em todas elas se encontra a crise fundamental: a crise do tipo de civilização que criamos a partir dos últimos 400 anos. Essa crise é global porque esse tipo de civilização se difundiu ou foi imposta praticamente ao globo inteiro. 41
Críticas ao modelo de sociedade atual e à ecologia
A primeira é feita pelos movimentos de libertação dos oprimidos. Ela diz: o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida, o bem comum, a participação e a solidariedade entre os homens. O seu eixo estruturador está na economia de corte capitalista. 42
A segunda linha crítica vem dos grupos pacifistas e da não violência ativa. Esses grupos notam que o tipo de sociedade de desenvolvimento desigual produz muita violência. Violência social e injustiça societária, por causa da desigualdade; violência em nível nacional e internacional. 45
Para manter a coesão mínima de uma sociedade desestabilizada internamente são necessários corpos militares pra controle e repressão. 45
Dados recentes apontam que 2/3 da inteligentzia mundial trabalha em projetos militares. Mesmo depois do fim da guerra fria, aplicam-se na indústria da morte cerca de 1 – 3 trilhões de dólares ao ano. Apenas 130 bilhões de dólares destinam-se à preservação do planeta Terra e de seus ecossistemas. 45
A violência militar e a guerra atômica, química e bacteriológica constituem formas específicas de agressão global, capazes de produzir o ecocídio, o biocídio e o geocídio de vastas regiões do planeta. 46
O terceiro grupo de crítica nos interessa diretamente: são os movimentos ecológicos. Eles constatam que os tipos de sociedade e de desenvolvimento existentes não conseguem produzir riqueza sem simultaneamente produzir degradação ambiental.46
O grande desafio vem da pobreza e da miséria. Esses são os principais problemas ecológicos da humanidade, e não o mico-leão dourada, o urso panda da China e as baleias dos oceanos. 47
Digamos logo de saída: pobreza e miséria são questões sociais,e não naturais e fatais. Elas são produzidas pela forma como se organiza a sociedade. 47
Não basta, em ecologia, o conservacionismo (conservar as espécies em extinção), como se a ecologia se restringisse somente a um setor da natureza, aquele biótico ameaçado. Hoje todo o planeta deve ser conservado, porque todo ele está ameaçado. 48
Não basta o preservacionismo (preservar, mediante reservas e parques naturais, regiões onde ser conserva o equilíbrio ambiental). Isso propicia principalmente o turismo ecológico e induz a um comportamento reducionista: somente nessas unidades de conservação o ser humano mantém um comportamento de respeito e de veneração; em outros lugares, segue a lógica da devastação. 48
Não basta o ambientalismo, como se a ecologia tivesse apenas a ver com o ambiente natural, com o verde, as espécies e o ar. 48
Principais questões da ecologia social
o ser humano sempre interage intensamente com o ambiente. Nem o ser humano nem o meio ambiente podem ser estudados separadamente. 51
essa interação é dinâmica e se realiza no tempo. A história dos seres humanos é inseparável da história de seu ambiente e de como eles interagem; 51
cada sistema humano cria seu adequado ambiental. São diferentes e possuem simbolizações singulares... 51-2
a ecologia social se interessa por questões como: por meio de que instrumentos os seres humanos agem sobre a natureza? 52
Para uma perspectiva integral, a sociedade e a cultura pertencem também ao complexo ecológico. Ecologia, já o assinalamos, é a relação que todos os seres, vivos e inertes, naturais e culturais, têm entre si e com o seu meio ambiente. 53
A ecologia chegou a ser uma crítica e até uma denúncia do funcionamento das sociedades modernas. Entre as coisas que se tem denunciado, temos a super-exploração do hemisfério sul, quer dizer do chamado terceiro mundo, por parte dos países comparativamente ricos do Norte, do chamado Primeiro Mundo. Nesse sentido, tomar consciência sobre a problemática ecológica global deve implicar adquirir consciência da situação socioeconômica, política e cultural de nossas sociedades, oque significa conhecer a situação de exploração dos países do Sul pelos industrializados do Norte. 12
EDSTRÖM, Ingemar. Somos parte de un gran equilibrio. Costa Rica: DEI, 1995.
Dentro dos parâmetros da ecologia social, devemos denunciar que o sistema social dentro do qual vivemos – a ordem do capital, hoje mundialmente integrado – é profundamente antiecológico. 54
As terras mais pobres foram deixadas para as maiorias que, para sobreviver, vêem-se forçadas a superexplorá-las e a esgotar o solo, terminando por desflorestar as matas, quebrando o equilíbrio natural. Os negros, antes escravizados, com a libertação jurídica, não foram compensados em nada. Da casa-grande foram jogados diretamente para as favelas. Tiveram de ocupar os morros, desmatar, abrir valas para o saneamento ao ar livre e assim viver sob a ameaça de muitas doenças, de dasabamentos e de mortes. Todas estas manifestações significam outras agressões ao meio, provocadas socialmente. 55
A proposta de Chico Mendes tornou-se paradigmática. Propunha o desenvolvimento extrativista que combinava o social com o ambiental. Ele compreendeu que os povos da floresta (questão social) precisavam da floresta para sobreviver (questão ambiental). Ele se deu conta também dos dois tipos de violência ecológica contra o meio ambiente e a violência social, violência contra os indígenas e seringueiros. Ambas obedecem à mesma lógica, lógica de acumulação mediante a dominação de pessoas e a exploração das coisas. 58
A ética não pode ser apenas ambiental, mas sócio-ambiental, pois, como vimos, o ambiente vem marcado pelo social e ao social pelo ambiental. 60
Pode sentir-se o anjo bom da natureza, seu guardião, o herdeiro responsável diante do Criador; como pode comportar-se como satã da Terra, destruir, quebrar equilíbrios e devastar espécies de seres vivos e mesmo os seus semelhantes. 61
O resultado atual é desolador. O ser humano elaborou uma relação injusta e humilhante para com a natureza. A Terra não agüenta mais a máquina da morte ou a voracidade capiltalista. Impõe-se, urgentemente, uma justiça ecológica. 62
Um notável filósofo da ética da responsabilidade, Hans Jonas, formulou, na linha de Kant, um novo imperativo ético para nossos dias: “ Comporta-te de tal maneira que os efeitos de tuas ações sejam compatíveis com a permanência da natureza e da vida humana sobre a Terra”. 63
... a lógica que leva a dominar classes, oprimir povos e discriminar pessoas é a mesma que leva a explorar a natureza. 65
A economia mudou. Antes era uma economia para o crescimento e o desenvolvimento. Agora é uma economia para o pagamento da dívida externa. É o mundo as avessas. Os pobres ajudam os ricos. 77
Hoje, dentro das políticas de ajustes, em vista do mercado mundial, somos mais pobres. Mas com uma agravante: estamos sem esperança. Difunde-se a crença de que os países do Terceiro Mundo não tem futuro nem salvação. 79
... a forma como se produz privilegia o capital ao trabalho, a acumulação privada à participação coletiva, e considera a pessoa humana apenas como força de trabalho, carvão vivo a ser queimado na máquina produtiva. 81
Se prepararmos bem a mundialização se faz pela via da competitividade (por isso é violenta), não pela via da solidariedade e da interdependência de todos com todos e com a natureza. 82
O dogma fundamental da religião da mercadoria é esse: “o dinheiro tudo pode, move o céu e a terra”. E o mercado é a mão invisível que rege nossos destinos melhor do que a nossa consciência, pois toma sempre a decisão mais adequada. 85
Assim o interesse do padeiro não reside em saciar a fome das pessoas(interesse social), mas em ganhar dinheiro com a venda de seu pão (interesse privado). 87
De uma economia de produção material ilimitada, deve-se chegar a uma economia da produção humana integral, produção do suficiente para todos, também para os seres vivos da natureza. 89
Desafios ético-ecológicos: atitudes novas em face de uma realidade nova
Humanização mínima: todo ser humano deve ter o direito mínimo de persistir na existência. Isso quer dizer que deverá poder comer pelo menos uma vez ao dia, morar e ter o cuidado básico de saúde garantido. 90
Cidadania:implica numa atitude democrática, participatória, e a concordância intrínseca com a pluralidade. 91
Justiça socioetária: implica a certeza de se poder desfrutar de benefícios sociais; certeza também do prevalecimento da certa correlação entre o que o cidadão contribui e o que, em contrapartida, recebe. 91
Bem-estar humano e ecológico: os melhores projetos, práticas e organizações são aqueles que maximizam não somente a quantidade de bens e serviços, mas principalmente a qualidade da vida humana. 91
Respeito às diferenças culturais: o ser humano é um ser histórico e codificou diferentemente suas respostas às questões significativas de sua passagem pela Terra. 92
Pathos é o sentimento de base pelo qual somos afetados e afetamos tudo o que nos cerca. Configura a estrutura básica da existência enquanto ser-no-mundo junto com outros em permanente inter-retro-relacionamento. 101
Eros significa a força vital, o entusiasmo, a criatividade da vida, a força de expansão e criação de diferenças e também de sua unidade dinâmica. 101
Logos é a capacidade de interlecção, de descoberta e de criação de sentido em tudo o que sentimos e captamos. É um princípio ordenador da vida e do universo. 102
Daimon é a voz interior, o chamado de nossa natureza profunda, a inclinação e o afeto que sempre os empurram para frente e para cima, ajudando-nos a discernir o bem e o mal. 102
Ethos é a capacidade de ordenar responsavelmente os comportamentos com os outros e com o mundo circundante, para que possamos viver na justiça, na cooperação e na paz, no interior da casa comum dos humanos (sentido originário de ethos = habitat humano). 102
Essa hegemonia acabou por se transformar numa espécie de ditadura do logos sobre as demais dimensões da existência e de sua compreensão, especialmente quando o logos foi afunilado numa compreensão utilitarista e funcional... 102-3
A crise da cultura do logos levou à revalorização do pathos, do eros, do daimon e do ethos como caminhos da integração e de resgate do próprio logos, a serviço da vida humana e da preservação da integridade da criação. 103
Chamamos de paradigma àquele conjunto de saberes e utopias que estruturam uma sociedade determinada. Esse paradigma é o horizonte de um sentido globalizador. 103
O paradigma deve responder à pergunta fundamental que todos fazem, deve atender às demandas impostergáveis, deve produzir desafogo e sentimento de segurança e orientação. 104
Não precisamos recorrer a um princípio transcendente e externo para explicar o surgimento da vida, como o fazem, comumente, as religiões e a cosmologia clássica. Basta que o princípio cosmogênico, esteja presente na minúscula esfera primordial, esta sim criada por uma inteligência suprema, um infinito amor e uma eterna paixão. 109
A vida, pois, representaria a realização de um a possibilidade presente na própria matéria e energia originárias. 109
Há tantos planetas vivos no universo quanto há planetas capazes de gerar e sustentar a vida. Uma estimativa conservadora eleva o número à casa dos milhões. Trilhões de biosferas costeiam o espaço em trilhões de planetas, canalizando matéria e energia em fluxos criativos de evolução. Para qualquer direção do espaço que olhemos, há vida (...). O universo não é o cosmo inerte dos físicos, com uma pitada a mais de vida por precaução. O universo é vida com a necessária estrutura à sua volta; consiste principalmente em trilhões de biosferas geradas e sustentadas pelo restante do universo. 383
DUVE, Christian de. Poeira vital: a vida como imperativo cósmico. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Nos meteoritos, encontram-se aminoácidos. Esses, sim, são os eventuais portadores das arquibactérias da vida. Houve, provavelmente, vários começos da vida, muitos, possivelmente, vários começos de vida, muito possivelmente frustrados, até que um definitivamente pôde firmar-se e perdurar. 112
O homem/mulher é o derradeiro rebento da árvore da vida, a expressão mais complexa da biosfera, que, por sua vez é expressão da hidrosfera, da geosfera, enfim, da história da Terra e do universo. Não vivemos apenas sobre a Terra. Somo filhos e filhas da Terra, mas também membros do imenso cosmos. 113
As características da vida são a auto-organização:as partes estão num todo orgânico, continuamente se estruturando, fazendo com que as funções sejam diferenciadas, articuladas e complementares; a autonomia: cada ser existe em si, possui sua identidade, que se autoconstrói permanentemente, mas ao mesmo tempo existe a partir dos outros e para os outros, sempre interagindo com o meio; adaptabilidade ao meio: por ela, garante seu equilíbrio frágil, troca energia e matéria com o meio circundante, sobrevive e expande o sistema da vida; reprodução: é a qualidade originalíssima da vida, pois se transmite idêntica a si mesma dentro de uma mesma espécie; e, por fim, a autotrascendência: como um sistema aberto a novas sínteses, a novos patamares de evolução e a novas formas de expressão. 114
O ethos assume então seu caráter originário hábitat humano, aquela parte do mundo que foi domesticada, amada, organizada para ser a casa do ser humano, onde ele reencontra um útero protetor. Essa ambiência é formada pela ternura e pelo cuidado. 117
Há uma máquina de morte contra a vida na Terra e contra o macroorganismo Gaia. Importa defender e garantir a permanência do maior sucesso de cosmogênese: a produção e a reprodução da vida. 118
A vida, como vimos, é frágil e vulnerável. Está à mercê do jogo entre o caos e cosmos. A atitude adequada para a vida é o cuidado, o respeito, a veneração e a ternura. 118-9
Em primeiro lugar, vem a Terra como um todo, pois ela demanda um cuidado especial para ser curada e poder possibilitar a vida para todos. Ser solidário para com ela é reconhecer-lhe a autonomia e respeitar os recursos que ela mesma usa para se refazer e se autocurar. Em seguida, trata-se de cuidar dos seres mais ameaçados. Estes são os empobrecidos, marginalizados e vitimados por mecanismos de opressão e sacrificação de pessoas, implicadas nos modelo econômico-social dominante. Ser solidários para com esses seres humanos implica, hoje questionar o tipo de sociedade agora marginalizado, cuja lógica de funcionamento produz tantos excluídos. 120-1
O que tem futuro garantido é a vida, pois ela, fundamentalmente, não é nem temporal, nem vegetal, nem animal, nem humana. A vida é eterna. Veio do mistério do universo, passa por nós e retorna ao seio desse mesmo mistério vivo, fonte de toda a vida. 123
Na nossa cultura ocidental, a cosmologia antiga projetava o mundo como uma imensa pirâmide. Os seres se hierarquizavam, dos mais simples aos mais complexos (pedras, plantas, animais, seres humanos e anjos/demônios), até culminarem em Deus. 128
O desenvolvimento deve ser com a natureza, e não contra a natureza. O que deve ser mundializado atualmente é menos o capital, o mercado, a ciência e a técnica. O que deve, fundamentalmente, ser mais mundializado é a solidariedade para como todos os seres, a partir dos mais afetados; a valorização ardente da vida, em todas as suas formas; a participação como resposta ao chamado de cada ser humano e à dinâmica mesma do universo; a veneração para com a natureza da qual somos parte, e a parte responsável. 132
René Descarte: “mestre e donos da natureza”.
Francis Bacon: “Saber é poder”. Sobre a natureza... “amarra-la ao serviço humano e faze-la nossa escrava, coloca-la na cama de Procusto, tortura-la até que ela nos entregue todos os segredos”.
Para a psicologia infantil, o que não se vê, não existe. No adulto, pode permanecer como resquício dessa visão a idéia de que um objeto não mais visível já não existe. Por isso, lança ao fundo do mar ou soterra rejeitos tóxicos ou nucleares com sensação ilusória de te-los eliminado realmente. 135
Bem dizia o cacique Seattle, americano: “ quando a última árvore for abatida, quando o rio for envenenado, quando o último peixe for capturado, somente então nos daremos conta de que não se pode comer dinheiro”. 137
A ecologia da mente procura recuperar o núcleo valorativo-emocional do ser humano em face da natureza. 138
A natureza não é biocêntrica, mas econcêntrica, pois ela visa ao equilíbrio entre vida e morte, numa perspectiva de manutenção do todo. 143
Darwin estabeleceu a luta pela vida como princípio de seleção natural. O mais forte sobrevive; portanto, triunfa o princípio da auto-afirmação. Essa constatação não representa toda a verdade. Hoje se complementa Darwin com os princípios sinergia, cooperação, solidariedade univesal, princípio que responde pela sobrevivência de todos no todo. Não se há de acentuar apenas a diferença e a identidade, mas também a complementaridade e a solidariedade entre todos. 143
... renomados cientistas representam a Terra como um sistema complexo único, um superorganismo vivo, Gaia. 144
A rigor, sobre Deus não se pode dizer nada, porque todos os nossos conceitos palavras vem depois e derivam do universo. E queremos falar d’Aquele que é antes do universo. Como? Com razão dizem os que conhecem a Deus por experiência, os místicos: ao falar de Deus, mais negamos que afirmamos, proferimos mais falsidades do que verdades. Apesar disso, devemos falar d’Ele com reverência e unção, porque colocamos questões que somente apelando para a categoria Deus podem ser, palidamente, respondidas.146
Essa consciência ganha dramaticidade por causa do principio de autodestruição. O homem da modernidade científico-técnica, no afã de atingir níveis cada vez mais altos de desenvolvimento, sacrificou pesadamente as classes, os povos e a natureza. Disso resultou um efeito não intencional: a máquina de morte, capaz de destruir toda a biosfera. Tal fato suscita a urgência do princípio de responsabilidade para controlar e limitar o princípio de autodestruição. 159-160
Que futuro possui? Aquele da Igreja romana que ela produz. A igreja romana é parte da cultura ocidental, cada vez mais acidental, quando considerada numa perspectiva planetária. 162
O catolicismo popular não deve ser entendido como decadência do catolicismo oficial. Trata-se de uma tradução diferente da mensagem cristã no código da cultura popular, simbólica e com uma linguagem que obedece à lógica do inconsciente. 163
O catolicismo popular significa uma das maiores e mais originais criações da cultura brasileira. Aqui o Cristianismo morenizou-se e se mostrou, mas fonte que espelho. Soube conferir uma aura de mística e de magia à vida do povo, tantas vezes humilhado, sangrado e ressangrando, na expressão de Capistrano de Abreu. 165
Atualmente o movimento carismático penetrou em todas as instâncias da Igreja, de bispos a leigos. Configura um novo modo de ser Igreja. Todos estão cansados de catecismos e doutrinas. Busca-se uma experiência de Deus, como Espírito, um encontro vivo com a Fonte da vida. 169
A vida é sagrada, pois representa a floração mais alta e misteriosa do processo evolucionário. É por meio dela que se revela o mistério do mundo que chamamos Deus. 212
O Cristianismo deve ajudar a criar um mundo para todos, e não só para os cidadãos. E a democracia é o enquadramento social e político benéfico para todos. A partir da democracia planetária, é possível o encontro das religiões, das espiritualidades e das visões de mundo. 213
O ser humano é uma totalidade inserida ecologicamente dentro de outra totalidade maior, que é o universo à nossa volta. 222
A primeira curva, a biológica, vai descrevendo e morrendo até acabar de morrer. A segunda curva, a pessoal, vai nascendo e crescendo até acabar de nascer. 226
O ser humano concreto é a unidade tensa, difícil e irredutível dessas duas curvas e desses dois pontos da elipse humana. 227
Um poeta alemão expressou bem o que significa o ser humano enquanto alma: “um cão que morre e que sabe que morre como um cão e que pode dizer que morre como um cão: eis aí um ser humano”. (E. Fried, Warngedichte)228
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