Eis que, há mais de dois séculos no nossa cultura, a semelhança deixou de formar, no interior do saber, uma figura estável, suficiente e autônoma. A época clássica a mandou embora: Bacon, de início, depois Descartes instauraram, para um tempo do qual não saímos, uma ordem de conhecimentos em que a similitude pode ter apenas um lugar precário e provisório, no limite da ilusão... 10
Atualmente, o semelhante é tão alheio ao nosso saber, tão misturado aos jogos solitários da percepção, da imaginação e da linguagem, que facilmente esquecemos eu ele tenha podido ser, e por muito tempo, uma forma de saber positivo. 11
Mas é preciso nos determos por um instante na própria linguagem, nos signos dos quais ela é formada: na maneira pela qual esses signos remetem ao que eles indicam... O tamanho da mão de um homem, é a imagem de seu vigor. Mas essa imagem apenas é signo na medida em que é sustentada pelo conhecimento de um encadeamento constante. 22-23
O filósofo não tem papel na sociedade. Não se pode situar seu pensamento em relação ao movimento atual do grupo. Sócrates é um excelente exemplo: a sociedade ateniense pôde apenas lhe atribuir o papel subversivo, seus questionamentos não podiam ser admitidos pela ordem estabelecida. 34
Poderíamos dizer que há duas formas de estruturalismo: a primeira é um método que permitiu seja a fundação de certas ciências como a lingüística, seja a renovação de algumas outras como a história das religiões, seja o desenvolvimento de certas disciplinas com a etnologia e a sociologia... O segundo estruturalismo seria uma atividade através da qual os teóricos, não especialistas, se esforçam para definir as relações atuais que podem existir entre tal e tal elemento de nossa cultura, tal ou tal ciência, tal domínio prático ou tal domínio teórico. 57
A história que não é estrutura, mas vir a ser; que não é simultaneidade, mas sucessão; que não é sistema, mas prática; que não é forma, mas esforço incessante de uma consciência retomando a si mesma e tentando se ressarcir até o mais profundo de suas condições; a história não é descontinuidade, mas longa paciência ininterrupta. 86
O saber não é uma soma de conhecimentos – pois destes sempre se deve poder dizer se são verdadeiros ou falsos, exatos ou não, aproximativos ou definidos, contraditórios ou coerentes; nenhuma dessas distinções é pertinente para descrever o saber, que é o conjunto dos elementos (objetos, tipos de formulações, conceitos e escolhas teóricas) formados a partir de uma só e mesma positividade, no campo de uma formação discursiva unitária. 110
A extrapolação epistemológica não se confunde com a análise (sempre legítima e possível) das estruturas formais que podem caracterizar um discurso científico. Mas ela permite supor que, para uma ciência, bastam essas estruturas para definir a lei histórica de seu surgimento e desenvolvimento. 113
O conhecimento confia à experiência o encargo de dar conta da existência efetiva da ciência; e ela confia à cientificidade o encargo de dar conta da emergência histórica das formas e do sistema aos quais ela obedece. Tema do conhecimento equivale a uma degeneração do saber. 117
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