A questão ambiental tornou-se um importante foco de atenção e de modismos, sem precedentes históricos, sobretudo a partir da década de 1980. Desde então, manchetes deste tipo permearam os jornais e noticiários de todo o mundo e os chamados desastres ecológicos e as previsões apocalípticas passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia. Isso é historicamente novo. Até a primeira metade do século XX e mesmo até meados dos anos 60, preocupações globais com a saúde da “espaçonave” Terra eram praticamente inexistentes. 13
Tais intervenções antrópicas têm se traduzido freqüentemente em problemas como extinção de espécies, mudanças climáticas, poluição, exaustão de recursos úteis ao homem e outras questões que nos são hoje bastante familiares.14
Os 4,6 bilhões de anos são compactados em 46 anos e daí faz-se uma comparação com a jornada do Homo sapiens . vejamos: até os primeiros 7 anos são se tem nenhuma informação sobre o planeta. Os longínquos e extintos dinossauros só teriam aparecido após decorridos 45 anos. Os mamíferos só teriam surgido há oito meses. No meio da última semana desses 46 anos apareceram os primatas; e o homem moderno só teria aparecido nas últimas 4 horas desse tempo. Durante a ultima hora, o homem descobriu a agricultura; a Revolução Industrial só teria começado no último minuto. 14
O que isso tudo suscita, de fato, é uma urgência em termos de respostas, uma urgência proporcional à rapidez das mudanças em curso, pois a crise chamada ambiental não é nada mais do que uma “leitura” da crise de nossa sociedade. 14-5
O ponto crucial é que a questão de recursos naturais não é uma questão apenas técnica e, com isso, não pode ser isolada do contexto social e político. 22
O que precisamos, urgentemente, é de novos valores éticos em todos os setores de nossas vidas. A economia, por exemplo, tem a pretensão se ser uma ciência exata, pois é baseada na quantificação em termos de atributos monetários. É fácil perceber que nessas circunstancias ela é capaz de lidar com a questão dos valores éticos. 23
A atual crise ambiental é portanto muito mais a crise de uma sociedade do que uma crise de gerenciamento da natureza, tout court (expressão francesa e significa “na sua totalidade”). 25
Intimamente associadas a esse contexto de luta pro uma hegemonia e das relações homem-homem e homem-natureza, encontram-se duas outras formas de ação e conscientização: o movimento ecológico e a chamada educação ambiental. 27
A emergência da questão ambiental, em nível global, é historicamente nova. Historicamente nova são também as tentativas globais de conscientização ambiental, mas a questão ambiental, sempre esteve associada, como não poderia deixar de ser, a fatores econômicos, políticos e culturais. 28
A década de 1980 marcou a popularização da questão ambiental, mas o movimento ecológico, enquanto movimento social global, data da década de 1960 e não emergiu unicamente em conseqüência de uma preocupação com o “nosso futuro comum” na espaçonave Terra. 28
Concomitantemente cresce, a nível mundial, a pressão em torno da questão ambiental, obrigando as instituições estrangeiras a colocarem exigências para a realização de investimentos no Brasil, ou seja “sem preservação não há dinheiro”. 29
Sem dúvida, existem diferentes abordagens da questão ambiental na educação. Por trás dessas abordagens ou tendências, existem diferentes pressupostos filosóficos e práticas pedagógicas. Devido à forma de organização do conhecimento em nossa sociedade, podemos distinguir duas tendências mais gerais. 30
Uma educação conservacionista é essencialmente aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas naturais ou gerenciados pelo homem. Já uma educação para o meio ambiente implica também, segundo vários autores, em uma profunda mudança de valores, em um nova visão de mundo, o que ultrapassa bastente o universo meramente conservacionista. 34
Infelizmente, é preciso admitir ainda que adestramento, em vez de educação, é o que ocorre em diferentes níveis e áreas do ensino forma em nosso país. Por que isso acontece? A educação-adestramento é uma forma de adequação dos indivíduos ao sistema social vigente. Não se quer dizer com isso que uma adequação seja intrinsecamente ruim – pelo contrário, adequações são sempre necessárias para se viver em qualquer sociedade. O que se deseja criticar, sim, é a adequação que conduz particularmente à perpetuação de uma estrutura social injusta. 35
A divisão do saber em compartimentos estanques tornou-se prática e “necessária” para atingir os objetivos educacionais de um sistema de ensino que nada mais é do que uma faceta de uma determinada visão de mundo, também fragmentada. 36
Um aumento na quantidade de informações sobre uma problemática ambiental pode ser “eficiente” provido por um sistema de vídeos e microcomputadores, mas um simples aumento de informações, “eficientes”, não poderá por si só contribuir para uma visão mais crítica e abrangente do problema. 37-8
A educação se distingue do adestramento por ser este último um processo que conduz a reprodução de conceitos ou habilidades técnicas, permanecendo ausente o aspecto de integração do conhecimento, condição sine qua non para a formação de uma visão crítica e criativa da realidade. Poder-se-ia fazer também uma analogia entre o adestramento e a tekhne e a educação e a episteme. 39
A educação tem sido, ao longo da história, um esforço de determinação grupos para reforçar ao mudar o que existe. 41
Existe um grande consenso de eu o conceito de meio ambiente deva abranger uma totalidade que inclui os aspectos naturais e os resultantes de atividades humanas, sendo assim o resultados de interação de fatores biológicos, sociais, físicos, econômicos e culturais. 51
Assim, é preciso não confundir meio ambiente com natureza ou ecologia natural: poderemos ser nós mesmos as vítimas. 53
É interesante notar que em muitas sociedades ditas primitivas a natureza é vista como uma espécie de mãe. Os solos, as florestas, os rios, os mares e mesmo muitos animais são envoltos em divindade, e os homens, de um certa forma, subordinados a eles. A ideologia judaico-cristã, no entanto, se baseia em um conceito totalmente diferente, um concepção monoteísta: a Terra foi criada por um único Deus-todo-poderoso, que após lhe dar forma, ordenou a seus habitantes que crescem, se multiplicassem e exercessem domínio sobre todas as coisas- inanimadas e que se movessem sobre ela. 54
O paradigma cartesiano de ciência teve outro destino. Foi o alicerce teórico e prático de um modo de produção que iria modificar, sem precedentes históricos, a relação dos homens entre si e com a natureza: o modo de produção que nasceu com a Revolução Industrial,ou a “Segunda Onda” do Toffler. 55
O desenvolvimento da indústria aprofundou a divisão do trabalho fortalecendo e fundindo fenômenos que tinham uma evolução paralela: a visão de mundo cartesiana, a nova ordem econômica e o individualismo. O individualismo, como “nova” forma de viver de um vigoroso impulso à oposição sociedade-natureza. 56
É preciso pois ultrapassar as ideologias do tipo “Amazônia, inferno verde”. Nessa perspectiva, a floresta tropical é um lugar inóspito, cheio de bichos perigosos ou repulsivos e seus habitantes (os índios) são preguiçosos. Logo, a melhor solução é derrubar tanta mata quanto possível para “civilizar” o lugar. Apesar de haver nessa visão de mundo um leve resquício pré-histórico da impotência do Homo sapiens diante das insólitas forças da natureza, não é possível desvincula-la da filosofia cartesiana ou da ordem econômica que com ela surgiu. 57
É precisamente aqui que entra a Ética “Profissional” e o espírito do capitalismo, uma reflexão sobre as formas de ganhar dinheiro ou prestígio (ser “bem-sucedido”) de maneira mais fácil do que se a ética fosse mantida em cada setor profissional. Essa questão se resume na lamentável constatação de que, infelizmente, uma grande parte das pessoas “bem sucedidas” em nossa sociedade não o são por força de seus talentos mas por uma dimensão da idéia de força. Essa dimensão é a falta de ética, de forma deliberada ou “involuntária”, em suas vidas profissionais. 61
Se a nossa sociedade industrial e não ambiental se caracteriza por uma desigualdade social provavelmente inédita em toda a história, uma sociedade ambiental pode ser definida, em grande parte, pelo bem-estar da maioria da população. 62
Progresso e desenvolvimento, entretanto, não têm estado sempre associados a qualidade de vida para a maioria da população: na esmagadora maioria das vezes não são senão um eufemismo para designar crescimento desordenado, traduzido em “modernização da pobreza”. 66
As necessidades podem facilmente ser satisfeitas seja produzindo muito, seja desejando pouco. Em nossa sociedade somos induzidos a desejar muito. E o sistema de mercado industrial institui a escassez de moda jamais visto em qualquer outra parte. 67
Assim, crescimento econômico e desenvolvimento econômico deveriam significar coisas bem diferentes. A primeira deveria se referir tão-somente a incremento, enquanto que a segunda envolveria , além de incremento, os aspectos éticos desse incremento. Mas é precisamente aí que começa o imbróglio: usar da ética para questionar o “inquestionável”, ou seja os fundamentos lógicos da nossa civilização. 69
Desenvolvimento sustentável, nesse sentido, deve ser aquele que invoca uma nova ética, uma redefinição do que seja o bem-estar material e espiritual, em função da maioria da população, revertendo o presente estado de degradação da vida. Nessa nova ética, os conceitos hegemônicos de meio ambiente, ciência, tecnologia e educação (englobando todas as vias de formação do conhecimento) devem passar por uma profunda revisão epistemológica, pois se encontram, no quadro atual, enextricavelmente associados às causas dessa degradação da vida, na medida em que alicerçam, ideológica e materialmente, o sistema de produção dominante. 76
A educação deve pertencer ao domínio do pensamento crítico e, em sendo assim, deveria proporcionar os meios básicos para tornar os alunos capazes de distinguir o conteúdo dos diversos discursos, independentemente das formas sob as quais possam se apresentar. 82
Privilegiar o método é uma maneira de enfatizar a forma em detrimento de conteúdo. Conteúdo e forma guardam uma estreita interrelação dialética. Mas na nossa sociedade, de pensamento instrumental, novas práticas pedagógicas têm enfatizado mais a forma, impedindo-se com isso a transparência de um plano meramente técnico. 86
O que precisamos para uma educação que honrasse o adjetivo ambiental é mais de uma mudança qualitativa de conteúdos do que de “informações eficientes” – o que só será possível com uma maior ênfase nos aspectos éticos os políticos da questão ambiental. 86
O ensino técnico destinado tradicionalmente às classes trabalhadoras tem na verdade contribuído para a permanência das desigualdades sociais, pois reproduz a divisão da sociedade em classes. 90
Mas na maioria dos casos, ambientaliza-se a dimensão comportamental da sociedade industrial, em vez de socializar o ethos de uma sociedade ambiental. 91
Essa “ajuda”parece no mínimo arrogante pois se sente em algumas publicações que são sobretudo os subdesenvolvidos do Terceiro Mundo que precisam de educação para o meio ambiente. 92
Mas o fato é que, sob o ponto de vista estritamente utilitarista, as mais diversas formas de vida nada mais são do que seqüências de genes, a matéria-prima da mais poderosa e controvertida ciência biológica, a Biotecnologia. Precisamente por isso a conservação da biodiversidade faz parte hoje de um universo extremamente polêmico, por envolver questões éticas e de poder, sem precedentes históricos, concretizadas nas chamadas tecnologias da ponta. 93
A educação conservacionista tem privilegiado, sobretudo a leitura de que perdas na biodiversidade significam grandes prejuízos econômicos. 94
Embora a ética tenha raras vezes movido substancialmente os “moinhos” da nossa História, as dimensões emancipatória e ética da educação têm que ser resgatadas. 94
A educação adestradora se alicerça, em termos de currículo, em uma visão de mundo incluindo a de ciência, te tecnologia e de sociedade, que é essencialmente consensual e portanto vazia epistemologicamente. A educação assim “desauratizada” se torna uma mercadoria – e não qualquer mercadoria, mas um veículo de subordinação ao status quo – pois perde seu caráter negativo, seu potencial de talento e de criatividade. 97
O conhecimento dentro de uma perspectiva adestradora, exclui a dimensão espistemológica e a quantidade substitui a qualidade. Isso tende, pois, a ser materializadoem bourrage de crâne (entupimento do crânio). 98
A questão ambiental tampouco pode ser quantificada numericamente. A medida de uma área devastada, por poluição química ou desflorestamento, por exemplo, será apenas um dado parcial – não será nada além de um sintoma que oculta em si o universo muito mais abrangente de relações que essa sociedade tem uma natureza. É preciso, pois, não reduzir a educação ambiental a uma gestão eficiente dos recursos naturais: as vítimas também serão nossos corações e almas. 100
Educar para diminuir as desigualdades sociais é por si só bastante difícil, pois sabemos que a qualidade da educação que recebem diferentes crianças varia de acordo com sexo, origem étnica e status financeiro de seus pais. 103
Tais intervenções antrópicas têm se traduzido freqüentemente em problemas como extinção de espécies, mudanças climáticas, poluição, exaustão de recursos úteis ao homem e outras questões que nos são hoje bastante familiares.14
Os 4,6 bilhões de anos são compactados em 46 anos e daí faz-se uma comparação com a jornada do Homo sapiens . vejamos: até os primeiros 7 anos são se tem nenhuma informação sobre o planeta. Os longínquos e extintos dinossauros só teriam aparecido após decorridos 45 anos. Os mamíferos só teriam surgido há oito meses. No meio da última semana desses 46 anos apareceram os primatas; e o homem moderno só teria aparecido nas últimas 4 horas desse tempo. Durante a ultima hora, o homem descobriu a agricultura; a Revolução Industrial só teria começado no último minuto. 14
O que isso tudo suscita, de fato, é uma urgência em termos de respostas, uma urgência proporcional à rapidez das mudanças em curso, pois a crise chamada ambiental não é nada mais do que uma “leitura” da crise de nossa sociedade. 14-5
O ponto crucial é que a questão de recursos naturais não é uma questão apenas técnica e, com isso, não pode ser isolada do contexto social e político. 22
O que precisamos, urgentemente, é de novos valores éticos em todos os setores de nossas vidas. A economia, por exemplo, tem a pretensão se ser uma ciência exata, pois é baseada na quantificação em termos de atributos monetários. É fácil perceber que nessas circunstancias ela é capaz de lidar com a questão dos valores éticos. 23
A atual crise ambiental é portanto muito mais a crise de uma sociedade do que uma crise de gerenciamento da natureza, tout court (expressão francesa e significa “na sua totalidade”). 25
Intimamente associadas a esse contexto de luta pro uma hegemonia e das relações homem-homem e homem-natureza, encontram-se duas outras formas de ação e conscientização: o movimento ecológico e a chamada educação ambiental. 27
A emergência da questão ambiental, em nível global, é historicamente nova. Historicamente nova são também as tentativas globais de conscientização ambiental, mas a questão ambiental, sempre esteve associada, como não poderia deixar de ser, a fatores econômicos, políticos e culturais. 28
A década de 1980 marcou a popularização da questão ambiental, mas o movimento ecológico, enquanto movimento social global, data da década de 1960 e não emergiu unicamente em conseqüência de uma preocupação com o “nosso futuro comum” na espaçonave Terra. 28
Concomitantemente cresce, a nível mundial, a pressão em torno da questão ambiental, obrigando as instituições estrangeiras a colocarem exigências para a realização de investimentos no Brasil, ou seja “sem preservação não há dinheiro”. 29
Sem dúvida, existem diferentes abordagens da questão ambiental na educação. Por trás dessas abordagens ou tendências, existem diferentes pressupostos filosóficos e práticas pedagógicas. Devido à forma de organização do conhecimento em nossa sociedade, podemos distinguir duas tendências mais gerais. 30
Uma educação conservacionista é essencialmente aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas naturais ou gerenciados pelo homem. Já uma educação para o meio ambiente implica também, segundo vários autores, em uma profunda mudança de valores, em um nova visão de mundo, o que ultrapassa bastente o universo meramente conservacionista. 34
Infelizmente, é preciso admitir ainda que adestramento, em vez de educação, é o que ocorre em diferentes níveis e áreas do ensino forma em nosso país. Por que isso acontece? A educação-adestramento é uma forma de adequação dos indivíduos ao sistema social vigente. Não se quer dizer com isso que uma adequação seja intrinsecamente ruim – pelo contrário, adequações são sempre necessárias para se viver em qualquer sociedade. O que se deseja criticar, sim, é a adequação que conduz particularmente à perpetuação de uma estrutura social injusta. 35
A divisão do saber em compartimentos estanques tornou-se prática e “necessária” para atingir os objetivos educacionais de um sistema de ensino que nada mais é do que uma faceta de uma determinada visão de mundo, também fragmentada. 36
Um aumento na quantidade de informações sobre uma problemática ambiental pode ser “eficiente” provido por um sistema de vídeos e microcomputadores, mas um simples aumento de informações, “eficientes”, não poderá por si só contribuir para uma visão mais crítica e abrangente do problema. 37-8
A educação se distingue do adestramento por ser este último um processo que conduz a reprodução de conceitos ou habilidades técnicas, permanecendo ausente o aspecto de integração do conhecimento, condição sine qua non para a formação de uma visão crítica e criativa da realidade. Poder-se-ia fazer também uma analogia entre o adestramento e a tekhne e a educação e a episteme. 39
A educação tem sido, ao longo da história, um esforço de determinação grupos para reforçar ao mudar o que existe. 41
Existe um grande consenso de eu o conceito de meio ambiente deva abranger uma totalidade que inclui os aspectos naturais e os resultantes de atividades humanas, sendo assim o resultados de interação de fatores biológicos, sociais, físicos, econômicos e culturais. 51
Assim, é preciso não confundir meio ambiente com natureza ou ecologia natural: poderemos ser nós mesmos as vítimas. 53
É interesante notar que em muitas sociedades ditas primitivas a natureza é vista como uma espécie de mãe. Os solos, as florestas, os rios, os mares e mesmo muitos animais são envoltos em divindade, e os homens, de um certa forma, subordinados a eles. A ideologia judaico-cristã, no entanto, se baseia em um conceito totalmente diferente, um concepção monoteísta: a Terra foi criada por um único Deus-todo-poderoso, que após lhe dar forma, ordenou a seus habitantes que crescem, se multiplicassem e exercessem domínio sobre todas as coisas- inanimadas e que se movessem sobre ela. 54
O paradigma cartesiano de ciência teve outro destino. Foi o alicerce teórico e prático de um modo de produção que iria modificar, sem precedentes históricos, a relação dos homens entre si e com a natureza: o modo de produção que nasceu com a Revolução Industrial,ou a “Segunda Onda” do Toffler. 55
O desenvolvimento da indústria aprofundou a divisão do trabalho fortalecendo e fundindo fenômenos que tinham uma evolução paralela: a visão de mundo cartesiana, a nova ordem econômica e o individualismo. O individualismo, como “nova” forma de viver de um vigoroso impulso à oposição sociedade-natureza. 56
É preciso pois ultrapassar as ideologias do tipo “Amazônia, inferno verde”. Nessa perspectiva, a floresta tropical é um lugar inóspito, cheio de bichos perigosos ou repulsivos e seus habitantes (os índios) são preguiçosos. Logo, a melhor solução é derrubar tanta mata quanto possível para “civilizar” o lugar. Apesar de haver nessa visão de mundo um leve resquício pré-histórico da impotência do Homo sapiens diante das insólitas forças da natureza, não é possível desvincula-la da filosofia cartesiana ou da ordem econômica que com ela surgiu. 57
É precisamente aqui que entra a Ética “Profissional” e o espírito do capitalismo, uma reflexão sobre as formas de ganhar dinheiro ou prestígio (ser “bem-sucedido”) de maneira mais fácil do que se a ética fosse mantida em cada setor profissional. Essa questão se resume na lamentável constatação de que, infelizmente, uma grande parte das pessoas “bem sucedidas” em nossa sociedade não o são por força de seus talentos mas por uma dimensão da idéia de força. Essa dimensão é a falta de ética, de forma deliberada ou “involuntária”, em suas vidas profissionais. 61
Se a nossa sociedade industrial e não ambiental se caracteriza por uma desigualdade social provavelmente inédita em toda a história, uma sociedade ambiental pode ser definida, em grande parte, pelo bem-estar da maioria da população. 62
Progresso e desenvolvimento, entretanto, não têm estado sempre associados a qualidade de vida para a maioria da população: na esmagadora maioria das vezes não são senão um eufemismo para designar crescimento desordenado, traduzido em “modernização da pobreza”. 66
As necessidades podem facilmente ser satisfeitas seja produzindo muito, seja desejando pouco. Em nossa sociedade somos induzidos a desejar muito. E o sistema de mercado industrial institui a escassez de moda jamais visto em qualquer outra parte. 67
Assim, crescimento econômico e desenvolvimento econômico deveriam significar coisas bem diferentes. A primeira deveria se referir tão-somente a incremento, enquanto que a segunda envolveria , além de incremento, os aspectos éticos desse incremento. Mas é precisamente aí que começa o imbróglio: usar da ética para questionar o “inquestionável”, ou seja os fundamentos lógicos da nossa civilização. 69
Desenvolvimento sustentável, nesse sentido, deve ser aquele que invoca uma nova ética, uma redefinição do que seja o bem-estar material e espiritual, em função da maioria da população, revertendo o presente estado de degradação da vida. Nessa nova ética, os conceitos hegemônicos de meio ambiente, ciência, tecnologia e educação (englobando todas as vias de formação do conhecimento) devem passar por uma profunda revisão epistemológica, pois se encontram, no quadro atual, enextricavelmente associados às causas dessa degradação da vida, na medida em que alicerçam, ideológica e materialmente, o sistema de produção dominante. 76
A educação deve pertencer ao domínio do pensamento crítico e, em sendo assim, deveria proporcionar os meios básicos para tornar os alunos capazes de distinguir o conteúdo dos diversos discursos, independentemente das formas sob as quais possam se apresentar. 82
Privilegiar o método é uma maneira de enfatizar a forma em detrimento de conteúdo. Conteúdo e forma guardam uma estreita interrelação dialética. Mas na nossa sociedade, de pensamento instrumental, novas práticas pedagógicas têm enfatizado mais a forma, impedindo-se com isso a transparência de um plano meramente técnico. 86
O que precisamos para uma educação que honrasse o adjetivo ambiental é mais de uma mudança qualitativa de conteúdos do que de “informações eficientes” – o que só será possível com uma maior ênfase nos aspectos éticos os políticos da questão ambiental. 86
O ensino técnico destinado tradicionalmente às classes trabalhadoras tem na verdade contribuído para a permanência das desigualdades sociais, pois reproduz a divisão da sociedade em classes. 90
Mas na maioria dos casos, ambientaliza-se a dimensão comportamental da sociedade industrial, em vez de socializar o ethos de uma sociedade ambiental. 91
Essa “ajuda”parece no mínimo arrogante pois se sente em algumas publicações que são sobretudo os subdesenvolvidos do Terceiro Mundo que precisam de educação para o meio ambiente. 92
Mas o fato é que, sob o ponto de vista estritamente utilitarista, as mais diversas formas de vida nada mais são do que seqüências de genes, a matéria-prima da mais poderosa e controvertida ciência biológica, a Biotecnologia. Precisamente por isso a conservação da biodiversidade faz parte hoje de um universo extremamente polêmico, por envolver questões éticas e de poder, sem precedentes históricos, concretizadas nas chamadas tecnologias da ponta. 93
A educação conservacionista tem privilegiado, sobretudo a leitura de que perdas na biodiversidade significam grandes prejuízos econômicos. 94
Embora a ética tenha raras vezes movido substancialmente os “moinhos” da nossa História, as dimensões emancipatória e ética da educação têm que ser resgatadas. 94
A educação adestradora se alicerça, em termos de currículo, em uma visão de mundo incluindo a de ciência, te tecnologia e de sociedade, que é essencialmente consensual e portanto vazia epistemologicamente. A educação assim “desauratizada” se torna uma mercadoria – e não qualquer mercadoria, mas um veículo de subordinação ao status quo – pois perde seu caráter negativo, seu potencial de talento e de criatividade. 97
O conhecimento dentro de uma perspectiva adestradora, exclui a dimensão espistemológica e a quantidade substitui a qualidade. Isso tende, pois, a ser materializadoem bourrage de crâne (entupimento do crânio). 98
A questão ambiental tampouco pode ser quantificada numericamente. A medida de uma área devastada, por poluição química ou desflorestamento, por exemplo, será apenas um dado parcial – não será nada além de um sintoma que oculta em si o universo muito mais abrangente de relações que essa sociedade tem uma natureza. É preciso, pois, não reduzir a educação ambiental a uma gestão eficiente dos recursos naturais: as vítimas também serão nossos corações e almas. 100
Educar para diminuir as desigualdades sociais é por si só bastante difícil, pois sabemos que a qualidade da educação que recebem diferentes crianças varia de acordo com sexo, origem étnica e status financeiro de seus pais. 103
Um comentário:
Eu tinha um cachorro e ele sempre se comportou mal, em seguida, um vizinho recomendou o adestramento de cães. Agora é bem comportado e ouve seus mestres.
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